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sábado, 22 de dezembro de 2012
CUICA DE SANTO AMARO GANHA FESTIVAL DE DOCUMENTÁRIOS
quarta-feira, 5 de dezembro de 2012
Cuíca de Santo Amaro no Cachoeira Doc nesta sexta, 7
segunda-feira, 12 de novembro de 2012
Cuíca de Santo Amaro no Elevador Lacerda
Na próxima quarta-feira, às 18h, o filme documentário de longa metragem Cuica de Santo Amaro será exibido na praça Municipal, ao ar livre, no encerramento do Cine Futuro, o VIII Seminário Internacional do Cinema e do Audiovisual. A exibição será defronte do Elevador Lacerda e foi programada pelo Cine Futuro junto ao projeto "Cinema na Praça", que ocorre todas as quartas-feiras, às 18h naquele local.
Cuíca de Santo Amaro foi lançado numa avant-première em Salvador na sexta-feira (9) passada, na abertura do Cine Futuro, em duas sessões, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha. Concluído em janeiro de 2012, foi exibido em festivais no Rio de Janeiro, São Paulo, Porlamar (Venezuela) e numa sessão ao ar livre em Luanda (Angola). Em dezembro será exibido no Cachoeira Doc e no REcine - Festival Internacional de Cinema de Arquivo, no Rio de Janeiro.
sábado, 10 de novembro de 2012
Um filme lindo
Josias Pires e Joel Almeida, adorei o Cuica. Um filme lindo que me prendeu do começo ate o final, equilibrado, bem fotografado, bem montado, som impecavel. Sai desse filme mais rico e mais feliz.
Cuica de Santo Amaro e as memórias do último bonde
"Cuica de Santo Amaro", o documentário sobre esse mítico personagem da Salvador "do tempo em que até os automóveis davam bom dia", dirigido por Josias Pires e Joel Almeida, é muito bom. Gostei do ritmo, da pesquisa de imagens, da edição, do grafismo, da costura, da maneira esperta como se articulam as peripécias do poeta popular, ambulante do noticiário, e os modernos cuícas radiofônicos, Macunaímas de ontem e hoje.
Para além dessa experiência estética, lembrei que meu pai de vez em quando lembra das vindas dele, um sertanejo de Santa Teresinha, a Salvador. Da cidade que era bem diferente, dos bondes e do ponto de ônibus que era ali pelo centro antes de haver rodoviária. Fiquei imaginando se ele não parou pelo menos uma vez naquelas rodas em torno do endiabrado Cuíca, como todo aquele povo dando risada das reportagens-denúncias-crônicas
O último bonde
Devo ter perdido o último bonde, / aquele onde meu pai, um dia, / esqueceu uma maleta cheia de seus / papéis na juventude. Devo ter ido a pé, / pela calçada, pelo comércio, / pela colina sagrada. Devo ter confundido meu pai / com tanta gente. Um homem planejando /
casar e ter filhos, um homem só, na / madrugada, sem a sua maleta para abrir / e viajar. Devo ter tomado um ônibus / quando nem havia rodoviária, e descido / na mais recôndita cidade do universo. // Devo ter enxergado poesia numa casa /simples, nas crianças, num cachorro preto / maluco, cujo estranho hábito era atirar-se, / sofregamente, debaixo de cada carro que / passava pela rua. Numa gata cega que / se batia nas pernas das cadeiras, sob a mesa, /
uma gata cega e arisca, cujos filhos / não vingavam até chegar um que, / noite após noite, miava junto ao / quarto do menino magrinho para acordá-lo / e fazê-lo abrir a janela, e então entrava /
e dormia enroscado em seus pés. // Devo ter sido meu pai enquanto acariciava, / absorto, assistindo ao noticiário, / os cabelos do menino cortados no barbeiro míope, / Mister Magoo, cabelos de homem de verdade, / com todos aqueles caminhos de rato.
Avant-première de Cuica, por Paulo Galo
Passados quatro anos desse post aí (http://blogdogalinho.blogspot.com.br/2008/05/josias-pires-resgata-cuca-de-santo.html), fomos, eu e Angélica, assistir a avant-première de "Cuíca de Santo Amaro", ontem à noite no Cine Glauber Rocha, aqui na velha cidade da Bahia.
Cinema cheio, nas duas sessões programadas para a noite. Muita expectativa na entrada, um doce encantamento na saída. Josias
e Joel produziram um documentário a um só tempo importante e suave.
Gostoso de ver e capaz de ser compreendido até por quem nunca chupou um
autêntico picolé da Capelinha. Vai enternecer muita gente, para além das
paróquias baianas.
O "Cuíca" de Josias Pires e Joel de Almeida, o "Guerreiro" de Anselmo Serrat e a Rumpilezz de Letiers Leite
talvez sejam tão-somente doces exceções, ilhas de redenção a nos
abrigar dessa infame nuvem de obscuridade política e cultural que
estacionou sobre os céus da Bahia nos últimos 30 anos.
Mas pode ser
- e aqui dou a palavra ao incorrigível otimista que habita minha alma
bipolar - que a eles os deuses tenha dado a missão de anunciar que é
chegada a hora de volta a ver gente talentosa produzindo maravilhas
todos os dias.
Vou mais longe nessa vertigem preconizadora: pagos
os pecados cometidos - meu deus, foram tantos assim?- acho que seremos
merecedores até de uma safra de homens públicos maiúsculos. E de
dirigentes de futebol vencedores e decentes.
Não estranhe tanto
assim os meus devaneios, escassa mas valorosa plateia. Lembrem-se que
pelos mesmos becos imundos da velha São Salvador de hoje perambularam
um dia gente como Caymmi, Menininha do Gantois, Smetack, Raul Seixas,
Genaro de Carvalho, Orlando Gomes, Jorge Amado, Irmá Dulce, Armandinho
Macedo, Caribé, Glauber Rocha, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Pierre
Verger, Mãe Aninha, Olga do Alaketu, Mario Cravo, Martim Gonçalves,
Edgard Santos...
Bem vindos sejam os novos baianos!
Somos todos Guarani Kaiowá e Cuíca
Por Marcus Gusmão
10/11/2012Foto: Tainá Guarani Kaiowá
Chegamos ao Campo Grande às 18h40 sem esperança de encontrar alguém. Mas estavam todos lá, cantando e dançando, como índios. De conhecidos só Jocete, a médica das crianças, e Franciel com sua amada estrangeira. Seguimos para o Largo dois de Julho, como um bloco de índio, tomando as ruas, no mesmo percurso do Carnaval.
Na saída do Campo Grande Soraya avistou um menino, olhou para a mãe e chutou. Será Tainá? Sim, era Tainá, nossa amiga de facebook se materializava ali. Sim, este povo do facebook existe e se encontra na rua como Ivete Sangalo. Acredite. O melhor é a alegria, como se a gente já se conhecesse desde criancinha.
Lembrei da primeira passeata, em 1977, 78. Saímos da Politécnica, descemos pela Praça Reis Católicos com viadutos ainda em construção, gritando para os operários – ”não fique aí parado, você é explorado”, – não convencemos ninguém a nos seguir. Lá na frente, no Tororó, encontramos a polícia e as bombas de gás lacrimogêneo.
Hoje, na Avenida Sete, quem tava nas calçadas até ria da gente. “Não tem nem um índio aí”, vi alguém comentar em tom de gozação. No Largo 2 de julho o grupo se concentrou, a dança ficou mais intensa, eu me senti na minha tribo.
Outro dia estava conversando entre amigos sobre este tipo que somos, de querer mudar o mundo, mal conseguimos conduzir nossas vidas, mas insistimos em mudar o mundo. Mas vale a pena, não me arrependo e não poderia ser de outra maneira. Nem a gente e nem o mundo tem jeito.
Na praça Castro Alves deixamos nosso bloco seguir e fomos ao encontro de outra tribo no Cine Glauber. E lá se materializou muita gente, muita mesmo, gente bacana da Escola Técnica, em torno de Josias para a estreia de Cuíca.
Confesso que tive medo de não gostar, documentário longa metragem é barra pesada pra gente impaciente com cinema como eu. Normalmente durmo em cinema e já estava me preparando pra sentir sono.
Qual o quê. O filme me pegou do começo ao fim, pela pesquisa de imagem, pelos depoimentos, pela costura, pelo personagem, pela conexão com seu tempo. Josias e Joel fizeram uma aula sobre história da Bahia em movimento. Muito, muito bacana.
Voltamos para casa com a alma lavada. Viva os Guarani, Viva Cuíca, Viva Nóis.
Foto: blog Cuíca de Santo Amaro, o filme
segunda-feira, 5 de novembro de 2012
Longametragem Cuíca de Santo Amaro abre Cine Futuro nesta sexta (9)
Depois do Rio de Janeiro, São Paulo, Luanda, Angola, e Porlamar, Venezuela, o filme Cuíca de Santo Amaro será lançado em Salvador, nesta sexta-feira (9), na abertura do Cine Futuro, no Espaço Itaú de Cinema Glauber Rocha, em duas sessões, às 20h e 21h30min. Antes, às 19h, será lançado, no mesmo local, o livro "A Verve de Cuíca", patrocinado pela Fundação Pedro Calmon.
Sinopse do filme:
Veja o site do filme:
sexta-feira, 12 de outubro de 2012
Exibição do Cuíca de Santo Amaro em Luanda
Por Lula Oliveira
A sessão de Cuica de Santo Amaro no projeto Cinema no Telhado, do Instituto Goethe, foi também bastante prestigiada. Tivemos cerca de 60 pessoas na platéia. Inclusive, estudantes da Alemanha que estão fazendo intercâmbio cultural em Luanda. Existe uma grande dificuldade em compreender o personagem Cuica...muito distante da realidade daqui de Luanda. Não sei também até que ponto a tradução em inglês legitima a nossa lingua portuguesa com as suas gîrias e modo todo particular de se expressar. Entretanto, há um encantamento pelas imagens de arquivo da cidade de Salvador, Recôncavo... e são essas imagens que seguram o público no filme no início. São essas imagens que dialogam e permitem que o público, aos poucos, vá conhecendo o personagem central.
O angolano se enxerga no filme, nas suas imagens antigas mas facilmentedo que degusta o personagem do filme. Mas, ao final, embevecido pelas imagens, todos saíram conhecendo melhor o personagem.
Depois no debate, falando do processo do filme e do desafio dos realizadores e da produção em fazer um documentário onde existem pouquíssimas imagens do nosso personagem, perguntaram como conseguimos encontrar a voz de Cuica se não existem imagens. Eis a magia do cinema e a revelação que aquela voz é interpretada por um ator, surpreendeu a todos na sessão.
terça-feira, 25 de setembro de 2012
Cuíca de Santo Amaro será exibido em Angola e Venezuela no mês de outubro
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Cuica de Santo Amaro no Soterópolis
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
Filme Cuíca de Santo Amaro selecionado para festival na Venezuela
Projeto de exibição do filme em Salvador e em 30 cidades do interior da Bahia foi aprovado no Edital da Secretaria de Cultura para apoio a projetos audiovisuais, divulgado nesta sexta-feira (3) no Diário Oficial do Estado.
segunda-feira, 23 de abril de 2012
A abertura do filme Cuíca de Santo Amaro, por Ian Sampaio
O diretor de arte do filme documentário de longa metragem Cuíca de Santo Amaro, Ian Sampaio encontrou um tempo livre nas suas atividades e escreveu algumas linhas sobre o processo de criação e produção das cenas animadas criadas para a abertura e fechamento do filme. Lembro que na encomenda q fizemos, com a colaboração de Claude Santos, para Ian e seu pai Enéas Guerra estava a ideia de fazer rascunhos, desenhos rascunhados, rascunhos inspirados na narrativa do encontro de Orígenes Lessa com o poeta popular Cuíca de Santo Amaro na parte alta do Elevador Lacerda em 10 de junho de 1953.
Construímos o roteiro da abertura e, com a ajuda de Enéas Guerra e com a colaboração de algumas dezenas de desenhistas, mobilizados por Ian, como Raquel Pinheiro, excelente artista, Ian Sampaio montou a animação da abertura do filme.
Ele mesmo explica:
“Durante o processo de criação da abertura eu tinha uma vontade especial de fazer o Cuíca em animação, porém queria dar a ela um teor da arte do Sinézio [o ilustrador Sinézio Alves que desenhava as capas e os cartazes que Cuíca usava nas ruas] e com o radicalismo do próprio Cuíca.”
“A minha ideia era que a animação fosse diferente para quebrar um pouco as regras (de como animar) que aprendemos. Daí cheguei a conclusão de que nada seria mais diferente do que ter vários colaboradores e assim cada frame (em animação geralmente 1 segundo tem 12 frames) seria feito por um ilustrador causando uma multiplicidade na sequência de introdução do personagem Cuíca.
“Elaborada a estratégia fiz uma lista de potenciais colaboradores dentro da minha agenda de contatos e facebook, eram pessoas que poderiam se interessar e teriam tempo para tanto. Basicamente designers, animadores, ilustradores e uns ou outro familiares com artes gráficas.
“Contatei eles e solicitei que encaminhasse o e-mail para interessados. Fiquei surpreso que alguns de fato entraram em contato comigo, como a Raquel Pinheiro e Marcita.
“No e-mail eu expliquei qual seria o processo com um vídeo; exemplificando e descrevendo que não haveria regras nem restrições. O processo utilizado foi desenhar por cima do vídeo (o Filme onde o Cuíca aparece anunciando seus folhetos [o filme A Grande Feira, de Roberto Pires (1962)], um processo conhecido em animação como rotoscopia, que realcei no e-mail como roTOSCOpia, por causa do caráter tosco, bruto e puro que queria transportar dos desenhos do Sinézio e outros nos livros do Cuíca de Santo Amaro.
Fiz uma função matemática para exibir randomicamente um nome a cada frame, puxados da lista de nomes dos ilustradores. Os nomes se intercalam aleatoriamente, já que a ideia principal era de que a animação demonstrasse uma variedade de estilos. Devia cada ilustrador localizar os frames que cabiam a ele, sendo o responsável por decidir com quantos poderia colaborar. Após cada entrega eu contava frames restantes e redistribuía entre colaboradores, me incluíndo na lista inclusive.
Montei uma pasta no Dropbox e convidei todos os que confirmaram participação. Fiz pastas para cada um deles, onde eles salvariam suas artes. Em média, se não me engano, cada pessoa ficou com 7-8 frames pra desenhar, mas alguns famintos, como o Rafael Aflalo fizeram 28 ou mais.
Pergunta: O uso de animações em documentários é algo pouco comum. O que significou para vc esta experiência?
“De início eu estava um pouco incerto de como fazer essa introdução em animação. Não fugir ao foco do filme documentário. Mas a ideia começou a ficar mais clara à medida que eu desenvolvi o conceito e execução.
Nesse ponto foi bem natural experimentar linguagens de vários tipos, como o uso de fotos, de 3d, etc. Quis fugir do lugar comum e tinha uma tarefa de contar uma história, a sequência de introdução, sem ser literal.
Em geral a experiência foi bem agradável, o processo inteiro tomou um pouco mais de 1 ano, com vários intervalos as vezes de 3 meses. O que significou muito em termos de processo! Tive oportunidade de desenvolver vários detalhes com muita atenção. Minha experiência foi tão pessoal que não sabia como terminar, por que sempre queria mexer um pouco mais, ao mesmo tempo que se formou uma relação de amor e ódio. Ao final fiquei muito satisfeito… a abertura construiu um valor grande na minha opinião. É um trabalho muito elaborado, principalmente pela colaboração dos artistas.
Meu pai na verdade teve maior participação como colaborador, a ajuda dele foi especial pois produziu cuidadosamente alguns frames e também por ser o mais renomado entre os nomes, mas foi igualmente colaboração.
Estes foram os artistas que fizeram as ilustrações:
ANdrÉ LEAL
athos sampaio
bruno souza
carlo medici
carol gonçalo
chiquinho beraldo
daniel bruson
daniel makino
danilo enoki
enéas guerra
estudio ilustract
fabio biofa
felipe jornada
flavio de paula
ian sampaio
kin guerra
leandro franci
marcita leite
nemo sampaio
rafael aflalo
rafael araújo
raquel pinheiro
roberto sakaki
thiago pinho
thomate
vitor cervi
terça-feira, 3 de abril de 2012
Cinema popular e pontes com a nossa história
Os dois filmes baianos selecionados para o 17o. Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade, Cuíca de Santo Amaro, de Joel de Almeida e Josias Pires, e Ser Tão Cinzento, de Henrique Dantas, são obras que colaboram para jogar luz na memória de um país e de uma Bahia que precisa ser minuciosamente conhecida e reconhecida. Estamos fazendo filmes de memórias sobre personagens que souberam enfrentar as circunstâncias do seu tempo com criatividade e coragem.
Personagens como Cuíca de Santo Amaro e Olney São Paulo nos ajudam a fazer a ponte com histórias e tempos que, de alguma maneira, sofreram a tentativa de aniquilamento, soterramento, de apagamento de aspectos poderosos dessa memória cultural.
A estreia do Cuíca de Santo Amaro no É Tudo Verdade foi uma experiência benfazeja. O filme foi bem recebido pelo público e pela crítica e contou com a audiência plural, incluindo os baianos cineastas Geraldo Sarno, José Araripe, Sergio Machado, Henrique Dantas, o ator Lázaro Ramos, críticos como Carlos Alberto Mattos, Nelson Hoinef, Luiz Zanin e Marcos Pierry.
A presença de Cuíca de Santo Amaro entre os sete longas selecionados pelo Festival é mais um indicador seguro de que a produção de longa metragens de documentários está viva ainda na Bahia. Como notou a pesquisadora Maria do Rosário Caetano, a Bahia tem feito documentários que buscam um cinema popular. Filhos de João, de Henrique Dantas; e Bahea, Minha Vida, de Marcio Cavalcanti são filmes que caíram no gosto do público.
Cuíca de Santo Amaro é um personagem gigantesco do ponto de vista popular. Apesar de irrelevante para os ciosos do status quo. Personagem que pode ser lido e relido de muitas maneiras. Afinal, alcançou a dimensão do mito: é o defensor do povo, o grotesco crítico, o diabo solto nas ruas. Herói e anti-herói. O viramundo.
Num certo sentido é um tipo aparentemente incomparável. Daí a expressão do ilustrador Sinézio Alves de que Cuíca de Santo Amaro foi um personagem que todo romancista gostaria de ter criado. Devido à multiplicidade de faces. Inclusive por praticar a pequena canalhice inspirada nas grandes hipocrisias de jornalistas, radialistas e outros marreteiros granfinotes.
Um pequeno rei das encruzilhadas atuando na mesma seara dos donos da mídia. Documentários fundamentais são feitos com personagens aparentemente menores - é o que insiste em dizer o mestre Eduardo Coutinho.
Durante o festival tivemos a oportunidade de ver a primeira exibição pública da cópia restaurada do filme "Cabra Marcado para Morrer", o mais importante documentário brasileiro de todos os tempos, filme que retoma um filme interrompido em 31 de março de 1964 que estava sendo feito com personagens reais das ligas camponesas do Nordeste.
O Cabra faz a ponte com o passado, retirando aquelas memórias da “lata de lixo da história”, como aponta o crítico de cinema Jean-Claude Bernadet. Ao fazer isto, o filme também faz a personagem, Elizabeth Teixeira reerguer-se da clandestinidade que passou a viver depois do golpe militar. A readquirir a sua própria identidade. O filme, aponta Coutinho, faz a ponte com a história daquelas pessoas e com a história do país.
A tragédia brasileira numa obra prima, como definiu Carlos Alberto Calil, na mesa dos debates do Festival.
O Cabra, Olney São Paulo, Cuíca de Santo Amaro são pontes com a nossa própria história.
segunda-feira, 2 de abril de 2012
A força dos personagens
Por Carlos Alberto Mattos
http://carmattos.com/2012/03/31/a-forca-dos-personagens/
Como O Globo online não deu o link para meu artigo publicado hoje no Segundo Caderno impresso, vai aqui o texto:
Apesar do espaço cada vez maior que os festivais de cinema brasileiros vão abrindo para os documentários, o É Tudo Verdade continua a ser a menina dos olhos da turma do real. É ali onde se forma um certo senso de comunidade, e o foco se concentra nas questões dessa modalidade de cinema. O festival virou um motivo a mais para novos documentaristas se aventurarem a bordo de suas câmeras.
Hoje à noite serão conhecidos os premiados da 17ª edição, que termina amanhã no Rio e em São Paulo, seguindo dia 10 para Brasília e em maio para Belo Horizonte. O vencedor da competição brasileira de longas-metragens leva um prêmio no valor de 110 mil reais – mais um motivo de interesse para quem lida com os orçamentos miúdos da chamada não-ficção.
O que salta aos olhos desse conjunto de sete trabalhos selecionados pelo festival é, mais que tudo, a força dos personagens centrais. À exceção de Tokiori – Dobras do Tempo, de Paulo Pastorelo, que trata de uma rede de imigrantes japoneses numa área rural de São Paulo, os demais são dominados por personalidades fortes. Quatro delas dão título aos respectivos filmes, mostrando como a personalização é dado recorrente na pauta dos documentaristas brasileiros. De todos, Mr. Sganzerla, de Joel Pizzini, e Os Irmãos Roberto, de Ivana Mendes e Tiago Arakilian, antípodas em matéria de estilo, são os que mais se colam à forma de expressão dos seus personagens.
Pizzini cria uma espiral barroca de referências para apresentar o cineasta Rogério Sganzerla através de quatro grandes admirações: Orson Welles, Oswald de Andrade, Noel Rosa e Jimmi Hendrix. Pelo uso abundante de falas de Sganzerla, numa edição veloz, o filme reproduz a sua verve de enfant terrible, as alusões obsessivas e o estilo indisciplinado que o fizeram, assim como Glauber Rocha, quase tão importante pelo que disse e escreveu como pelo que filmou. A impressão de excesso é parte da proposta um tanto avassaladora de ser fiel ao personagem.
No extremo oposto da escala de irreverência, Os Irmãos Roberto enfoca, com imagens e depoimentos bem organizados, o trabalho dos arquitetos modernistas Marcelo, Milton e Maurício Roberto, responsáveis pelo célebre escritório MMM Roberto. O filme os apresenta através de falas e imagens bem compostas, editadas de maneira a sugerir linhas de continuidade e harmonia de formas condizentes com a obra que enfoca. Embora nada se fale da vida pessoal dos Roberto, são eles, como personagens, que norteiam um debate mais amplo sobre os destinos arquitetônicos do Rio de Janeiro.
Uma figura como Dino Cazzola, o produtor cinematográfico italiano que registrou a criação e consolidação de Brasília durante três décadas, tem sua vida privada referida rapidamente em Dino Cazzola – Uma Filmografia de Brasília. No filme, Andrea Prates e Cleisson Vidal trazem uma seleção de imagens daquele acervo praticamente desconhecido. A intenção é contar a história da capital por um viés crítico, ainda que se utilizando de filmagens quase sempre “chapa branca” em sua origem. Mas os poucos dados biográficos de Cazzola despertam a curiosidade do espectador. Com sua cidade destruída, ele teria ajudado os pracinhas brasileiros na Itália e vindo com eles para o Brasil ao fim da II Guerra.
Paralelo 10, de Silvio Da-Rin, e Coração do Brasil, de Daniel Santiago, são filmes de expedição que se inscrevem numa das primeiras tradições do documentário brasileiro. Mesmo assim, são os personagens principais que controlam o timão dos docs. Paralelo 10 viaja com o sertanista José Carlos Meirelles por um rio do Acre, nas proximidades da área dos índios isolados. Meirelles é um dos fundadores da nova mentalidade indigenista que visa respeitar o direito do índio ao não contato. Já em Coração do Brasil, são três homens de idade avançada que se dispõem a refazer a viagem que empreenderam 30 anos antes ao centro geográfico do Brasil, em terras indígenas do Mato Grosso. Aqui também, é a personalidade dos viajantes que acaba se sobrepondo às peripécias do trajeto.
Nenhum, porém, é mais pitoresco do que o personagem-título de Cuíca de Santo Amaro. O poeta de cordel que fez a crônica social e política de Salvador nos anos 40 a 60 era um Malasartes nativo, um “canalha modesto” no dizer aproximado de Millôr Fernandes. Sua trajetória entre escândalos, propinas e a picardia dos versos é contada com gosto no filme de Joel de Almeida e Josias Pires. Há poucas imagens de Cuíca, mas seu perfil está na tela pelas vias de um bom relato.
segunda-feira, 26 de março de 2012
Cuíca de Santo Amaro é bem acolhido pelo público na sessão de estreia
O cineasta baiano Geraldo Sarno, que compareceu à sessão, apesar do aguaceiro que caiu sobre a cidade naquela tarde-noite de sábado, comentou sobre a dificuldade de construir um filme longo sobre personagem do qual tem-se pouquíssimas imagens; e considerou “muito feliz” a solução que encontramos para realizar o documentário.
O diretor do festival Amir Labaki deu uma declaração entusiasmada a favor do filme, apostando numa carreira favorável, inclusive, nas salas de cinema. Nesta terça-feira (27) haverá reprise no mesmo cinema (Itaú/Botafogo), a partir das 15h. Na próxima quinta (29) será a estreia em São Paulo, no Cinesesc da Rua Augusta.
Veja texto publicado no blog de Carlos Alberto Mattos sobre o filme
http://carmattos.com/2012/03/25/o-cordelista-e-os-arquitetos/
terça-feira, 20 de março de 2012
Cartaz do filme D'Ele, O Tal, Cuíca de Santo Amaro
O cartaz foi criado por Ian Sampaio, diretor de arte do filme Cuíca de Santo Amaro.
O texto de Cuíca que acompanha essas animações foi retirado do texto sobre Cuíca de Santo Amaro publicado no livro "A voz dos poetas", da Fundação Casa de Rui Barbosa (1984), no qual relata encontro ocorrido em 10 de junho de 1953 na parte alta do Elevador Lacerda com o trovador-repórter da Bahia.
O texto de Orígines Lessa caiu como luva como elemento que colabora na estruturação da forma do filme. Havia a intenção do uso de animações para a abertura do filme e para alguns desenhos de Sinézio Alves, como o referente ao caso da Mulher de Brotas. Quando encontramos o texto de Orígenes Lessa percebemos que caía como uma luva para introduzir em cena o personagem e fazer algumas passagens.
segunda-feira, 19 de março de 2012
É Tudo Verdade: Cuíca de Santo Amaro estreia mundial no RJ
A estréia em SP será no dia 29 de março no Cinesesc
Bomba!! Bomba!! Bomba!! / Aguardem!! Em breve!!
No próximo dia 24 de março, às 19h, no Espaço Itaú de Cinema Botafogo, Praia do Botafogo, Rio de Janeiro, o filme documentário de longa metragem (2011, 73 min) Cuíca de Santo Amaro abre a seleção de longas nacionais do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade. O filme tem a direção de Joel de Almeida e Josias Pires, com o apoio do programa Petrobras Cultural.
O Festival programou mais uma sessão do filme no Rio de Janeiro, no dia 27 de março, às 15 no mesmo local. A estreia do filme em São Paulo será no dia 29 de março, às 21h, no Cinesesc– SP, na Rua Augusta, 2075. A segunda sessão do filme em São Paulo será no dia seguinte (30), às 15h, no mesmo lugar.
Comigo não tem bronca, dizia o trovador repórter desassombrado
Trovador maldito da poesia popular do Brasil, personagem controvertida, produz entre 1930 e 1963 cerca de mil títulos de livros de histórias, nome que dá aos folhetos que só depois passaram a ser conhecidos na Bahia como literatura de cordel.
Inspira Jorge Amado e Dias Gomes, que fazem de Cuíca personagem de quatro romances e da peça de teatro que, reapresentada pelo cinema, leva Anselmo Duarte a ganhar a Palma de Ouro em Cannes, com o filme “O Pagador de Promessa (1962). Na mesma época Cuíca de Santo Amaro faz a abertura do filme “A Grande Feira” (1961), de Roberto Pires. Seus livros vendiam como pães quentes nas feiras da Bahia.
É o defensor do povo contra os marreteiros e também o diabo das encruzilhadas, dos mercados, das festas e das frestas, personagem dos avessos e das margens, dos temas proibidos, picarescos, obscenos, malditos. Neste figurino ele aparece em Pastores da Noite e A morte e a morte de Quincas Berro D’Água e na peça O Pagador de Promessas, de Dias Gomes, adaptada para o cinema por Anselmo Duarte.
Faz propaganda comercial em portas de lojas. É histrião e usa métodos não convencionais para a coleta de notícias que usa na confecção de versos. Encarna personagem desabusada, que escreve, publica e vende nas ruas folhetos de protestos em plena II Guerra, reportando com humor a carestia da vida, demonizando Hitler, Mussolini e Plínio Salgado, elogiando Getúlio Vargas e Luís Carlos Prestes – apesar de posteriormente publicar folheto em favor da candidatura do camisa-verde e demonizar Prestes. Muitas performances fez ao lado de cartazes expostos nas ruas com frases e desenhos sobre os temas dos folhetos, ilustrados pelo amigo Sinézio Alves.
Em 1945 Jorge Amado o anuncia como “O Trovador da Bahia”. Em 46, a fama de Cuíca estende-se para todo o país, através da publicação de fotografias de Pierre Verger e de textos de Odorico Tavares e Jorge Amado na revista O Cruzeiro.
Durante duas décadas nas cidades da Bahia Cuíca de Santo Amaro atenta contra o pudor e brada contra a hipocrisia, revela em praça pública segredos de alcova e trapaças de ricos marreteiros. “Comigo não tem bronca”, garante. É a versão popular do boca de brasa, o Gregório de Mattos sem gramática. Poeta mais temido da Bahia é o defensor do povo, a voz do escândalo. É um herói e um anti-herói. Anjo torto, da boca torta. Poeta livre. O maior comunicador que a Bahia já teve.
Equipe
Direção – Joel de Almeida e Josias Pires
Diretor de Fotografia – Paulo Hermida
Direção de Produção Luciana Freitas e Marise Berta
Direção de Arte – Ian Sampaio
Direção Musical – Tuzé de Abreu
Som Direto – Rodrigo Alzueta e Napoleão Cunha
Montagem – Bau Carvalho
Produção Executiva – Adler Paz, Bau Carvalho e Lula Oliveira
Voz de Cuíca de Santo Amaro – Gil Teixeira
Programa do Festival http://www.itsalltrue.com.br/