sábado, 10 de novembro de 2012

Somos todos Guarani Kaiowá e Cuíca

Por Marcus Gusmão

10/11/2012
Foto: Tainá Guarani Kaiowá

Chegamos ao Campo Grande às 18h40 sem esperança de encontrar alguém. Mas estavam todos lá, cantando e dançando, como índios. De conhecidos só Jocete, a médica das crianças, e Franciel com sua amada estrangeira. Seguimos para o Largo dois de Julho, como um bloco de índio, tomando as ruas, no mesmo percurso do  Carnaval.

Na saída do Campo Grande Soraya avistou um menino, olhou para a mãe e chutou. Será Tainá? Sim, era Tainá, nossa amiga de facebook se materializava ali. Sim, este povo do facebook existe e se encontra na rua como Ivete Sangalo. Acredite. O melhor é a alegria, como se a gente já se conhecesse desde criancinha.

Lembrei da primeira passeata, em 1977, 78. Saímos da Politécnica, descemos pela Praça Reis Católicos com  viadutos ainda em construção, gritando para os operários –  ”não fique aí parado, você é explorado”, – não convencemos ninguém a nos seguir. Lá na frente, no Tororó, encontramos a polícia e as bombas de gás lacrimogêneo.

Hoje, na Avenida Sete, quem tava nas calçadas até ria da gente. “Não tem nem um índio aí”, vi alguém comentar em tom de gozação. No Largo 2 de julho o grupo se concentrou, a dança ficou mais intensa, eu me senti na minha tribo.

Outro dia estava conversando entre amigos sobre este tipo que somos, de querer mudar o mundo, mal conseguimos conduzir nossas vidas, mas insistimos em mudar o mundo. Mas vale a pena, não me arrependo e não poderia ser de outra maneira. Nem a gente e nem o mundo tem jeito.

Na praça Castro Alves deixamos nosso bloco seguir e fomos ao encontro de outra tribo no Cine Glauber. E lá se materializou  muita gente, muita mesmo, gente bacana da Escola Técnica, em torno de Josias para a estreia de Cuíca.

Confesso que tive medo de não gostar, documentário longa metragem é barra pesada pra gente impaciente com cinema como eu. Normalmente durmo em cinema e já estava me preparando pra sentir sono.

Qual o quê. O filme me pegou do começo ao fim, pela pesquisa de imagem, pelos depoimentos, pela costura, pelo personagem, pela conexão com seu tempo. Josias e Joel fizeram uma aula sobre história da Bahia em movimento. Muito, muito bacana.

Voltamos para casa com a alma lavada. Viva os Guarani, Viva Cuíca, Viva Nóis.


                       Foto: blog Cuíca de Santo Amaro, o filme